Marco Archer foi fuzilado por um pelotão de 12 homens, no complexo de prisões de Nusakambangan, a 400 km de Jacarta
O carioca Marco Archer Cardoso Moreira, de 53 anos, foi fuzilado às
15h30 deste sábado - 0h30 de domingo na Indonésia - por um pelotão de 12
homens, no complexo de prisões de Nusakambangan, em Cilacap, a 400 km
de Jacarta, capital do país asiático. A confirmação da morte de Marco,
condenado por tráfico de drogas, em 2004, foi dada pelo porta-voz da
Procuradoria-Geral da Indonésia, Tony Spontana. Ele é o primeiro
brasileiro executado por cometer um crime no exterior.
presidente da Indonésia, Joko Widodo
Em nota divulgada após a confirmação da
execução, a presidenta Dilma Rousseff disse estar "consternada e
indignada". Dilma ressaltou que a condenação à morte do brasileiro abala
as relações entre os dois países. A presidenta afirmou ainda que
convocou o embaixador do país na Indonésia para consultas. Apesar de
inúmeros pedidos e tentativas do governo nacional de interceder no caso -
e pedir até mesmo a prorrogação do fuzilamento -, o presidente da
Indonésia, Joko Widodo, não cedeu e manteve a condenação. No país, o
tráfico de drogas é punido com pena de morte.
"A Presidenta Dilma lamenta profundamente que
esse derradeiro pedido, que se seguiu a tantos outros feitos nos últimos
anos, não tenha encontrado acolhida por parte do Chefe de Estado da
Indonésia, tanto no contato telefônico como na carta enviada,
posteriormente, por Widodo", dizia trecho da nota, criticando ainda a
execução: "O recurso à pena de morte, que a sociedade mundial
crescentemente condena, afeta gravemente as relações entre nossos
países".
Marco era instrutor de voo livre e
foi condenado ao fuzilamento por tráfico de drogas, em 2004, depois de
ter sido preso, em 2003, ao tentar entrar no território com 13,4 quilos
de cocaína escondidos no tubo de uma asa delta. A droga foi descoberta
pelo raio-x, no Aeroporto Internacional de Jacarta.
Horas antes de sua execução, na manhã
deste sábado - horário de Brasília -, Marco recebeu a visita de
familiares. As imagens foram divulgadas por uma emissora local.
Além dele, as autoridades indonésias
executaram na ilha de Nusakambangan mais cinco condenados por tráfico de
drogas: Ang Kiem Soe, um holandês; Namaona Denis, um residente do
Malawi; Daniel Enemuo, nigeriano, e a indonésia, Rani Andriani. Outra
vietnamita, Tran Thi Bich Hanh, foi executada em Boyolali, na Ilha de
Java. Será executado também, ainda sem data prevista, outro brasileiro,
Rodrigo Gularte.
'Não há clemência para os traficantes', diz procurador indonésio
O procurador-geral, Muhammad
Prasetyo, informou que cinco condenados foram transferidos para a
penitenciária de Nusakambangan e o sexto à de Boyolali, ambas situadas
na ilha Java, informou o jornal local "Kompas". Horas antes das
execuções, Prasetyo acrescentou que os seis pelotões de fuzilamento
estavam preparados e que foi oferecido atendimento religioso para cada
um dos condenados, segundo suas crenças.
"Com isso (as execuções), mandamos
uma mensagem clara para os membros dos cartéis do narcotráfico. Não há
clemência para os traficantes", declarou o procurador-geral.
Segundo o clérigo Hasan Makarim,
responsável por aconselhamento religioso dos condenados, Archer - e os
demais que serão executados - está "conformado com a execução". A
declaração foi dada em uma entrevista ao jornal indonésio Jakarta Post.
"Todos eles estão prontos e nenhum deles entrou com pedido de protesto
pela sua execução. Eles disseram que aceitaram nossa decisão legal",
disse Hasan, afirmando ainda que viajou ao local, nesta sexta-feira,
para ajudá-los a se prepararem mentalmente para as mortes.
Em nota divulgada neste sábado, o Itamaraty
informou que o brasileiro Marco esteve hoje por cerca de uma hora com o
advogado, com uma tia e com funcionários da Embaixada do Brasil em
Jacarta.
Equipe da TV Globo tem passaporte apreendido
O corresponde da TV Globo Márcio Gomes e o
cinegrafista da emissora foram detidos, neste sábado, por autoridades no
porto de Cilacap e tiveram seus passaportes apreendidos. Segundo
informações da emissora, diplomatas brasileiros foram acionados para
auxiliar a equipe de jornalistas a recuperar os passaportes.
Presidenta Dilma fez apelos e pediu intervenção papal
Depois de inúmeros pedidos formais feitos pelo
governo brasileiro, a presidenta Dilma Rousseff ligou, na sexta-feira,
para o presidente da Indonésia, Joko Widodo, e fez novo pedido para
reverter a pena dos dois brasileiros condenados. Afirmando que reconhece
a soberania do país asiático, além de "reconhecer a gravidade dos
crimes cometidos", a presidenta disse que falava como mãe ao fazer o
apelo humanitário.
No entanto, o último telefonema de Dilma não
reverteu o caso: Widodo negou o apelo e afirmou que não poderia evitar a
execução porque aos condenados foram respeitadas "todas as etapas
previstas na lei da Indonésia". O Itamaraty também pediu a ajuda do Papa
Francisco.
Também na sexta-feira, o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, enviou uma carta ao chefe do Ministério
Público da Indonésia solicitando o adiamento de oito semanas da execução
do brasileiro Marco Archer. O objetivo era que, nesse período, um
tratado de cooperação entre os dois países pudesse reverter o quadro e
levar a um acordo no caso dos brasileiros - e de possíveis futuros casos
semelhantes.
Em entrevista ao Jornal da Globo
, na noite desta sexta-feira, o assessor especial da Presidência da
República para assuntos internacionais, Marco aurélio Garcia, disse que o
episódio criará uma sombra na relação entre os dois países.
“A presidenta lamentou profundamente essa
posição do governo indonésio e chamou a atenção para o fato de que isso
cria, sem dúvida nenhuma, uma mancha, uma sombra na relação bilateral”,
declarou Marco Aurélio Garcia. O assessor especial afirmou ainda que a
presidenta havia enviado quatro cartas ao presidente do país asiático. O
ex-presidente Lula também enviou duas cartas à Indonésia.
A Anistia Internacional também intercedeu no
caso e pediu, na sexta-feira, ao governo da Indonésia o adiamento da
execução da pena de morte dos seis condenados.
“As execuções devem ser suspensas
imediatamente. A pena de morte é uma violação dos direitos humanos”,
disse Rupert Abbott, diretor de Investigação da Anistia Internacional
para o Sudeste Asiático e Pacífico, em comunicado.
Apesar de as autoridades indonésias não terem
executado nenhum condenado em 2014, para este ano estão previstas 20
execuções de prisioneiros por fuzilamento. As leis da Indonésia contra
os crimes de droga estão entre as mais duras do mundo.
Fonte: O Dia
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