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terça-feira, 8 de setembro de 2015

Pastor que tentou 'cura gay' inaugura catedral para 800 pessoas homossexuais no Rio

“O grito dos excluídos”. É assim que o pastor Fábio Inácio define a reunião dos fiéis da Igreja Cristã Contemporânea, que comemorou nesta segunda-feira nove anos de existência com a inauguração da Catedral Contemporânea, no Rio de Janeiro. É o nono templo da congregação, que carrega em seus ideais uma bandeira pouco difundida em meios religiosos: a acolhida de homossexuais.


— Tenho certeza de que, se Jesus estivesse aqui, estaria do nosso lado — enfatiza Inácio, que lidera a igreja junto a seu companheiro, o pastor Marcos Gladstone.

Inácio e Marcos adotaram juntos duas crianças e têm em comum uma história que mistura passagens por outras igrejas evangélicas e a decepção com o discurso frequentemente homofóbico. Eles contam que cultos e pichações agressivas nos muros fazem parte da rotina da igreja.

Durante a inauguração da catedral, o que se viu foram centenas de fiéis lotando o templo, com capacidade para 800 pessoas. Grupos vieram de Minas Gerais e São Paulo, que também contam com unidades da congregação. Hoje, a Igreja Cristã Contemporânea tem três mil membros e planos de abrir mais três unidades até o fim do ano.
— Ainda existe resistência. Mas acredito que, com o tempo, caminhando a passos lentos, as coisas vão ficando mais claras — diz Inácio.

Há oito anos frequentando os cultos, o vendedor Roberto Leandro esteve nesta segunda-feira, com seu companheiro Wilson, no culto da Catedral de Madureira:

— Frequento com meu companheiro e ficamos à vontade. É a oportunidade de ser o que nós somos de fato.

Catedral da Igreja Cristã Contemporânea será inaugurada oficialmente na segunda-feira em Madureira, Zona Norte do Rio (Foto: Igreja Cristã Contemporânea/divulgação)

Banho de descarrego, corredor de sal, corrente de libertação. Sem contar a doação de todo o salário. Membro de uma igreja evangélica desde jovem, o hoje pastor Fábio Inácio de Souza diz que fez "de tudo" para buscar a libertação da homossexualidade. Passou por um processo semelhante ao que hoje é conhecido como "cura gay", mas não deu certo. Aos 26 anos, Fábio abandonou o culto que frequentava e conheceu a pregação do pastor Marcos Gladstone em um sobrado na Lapa, região central do Rio. Pouco depois, eles casaram e fundaram a Igreja Cristã Contemporânea, que aceita pessoas de todas as orientações sexuais. A igreja ganhou adeptos e, na próxima segunda-feira (7), uma catedral com capacidade para 800 fiéis será inaugurada.

A inauguração da igreja foi antecipada na coluna desta sexta-feira (4) de Ancelmo Gois, no jornal O Globo. O espaço em Madureira, na Zona Norte, já está pequeno, diz o pastor Fábio — antes mesmo da abertura oficial. Na contramão do fanatismo, a casa ficou cheia em eventos preliminares. "As pessoas estão saindo do armário. Muitos buscam refúgio na gente porque outras igrejas não aceitam gays. Nosso objetivo não é debater a sexualidade. Quando Deus olha para alguém, olha para o coração, não olha para a orientação sexual", explica.

Aos 35 anos, o fundador da igreja recorre à Bíblia para explicar porque, na sua visão, Jesus Cristo não discriminaria os gays, como ele, se voltasse à terra.

"Em todo o tempo, Ele esteve ao lado dos excluídos. A mulher adúltera, o cego, o leproso. Jesus veio para quebrar algumas leis. Os negros também já foram discriminados, não podiam ir à igreja. A Bíblia não condena a homossexualidade, quem condena é o homem", afirma.


E não faltam homens que o façam, inclusive entre os políticos. Para o pastor Fábio, isto não é uma coincidência.Ele diz que certos evangélicos usam a igreja para fazer "promoção" e diz que os fiéis, muitas vezes, são "massa de manobra". Alguns dos políticos, ainda segundo o religioso, usam a defesa da família como pretexto, mas acumulam divórcios (com mulheres).  "Não vejo a luta contra o homossexual como uma questão física, é uma questão política".

Cita como exemplo um deputado investigado por recentes casos de corrupção e questiona: "Eu, sendo gay, qual prejuízo dou à sociedade? Nenhum. É um direito meu, não estou pecando. Ser corrupto sim. Ser gay não é uma opção. Ser corrupto, sim", pondera.

Catedral em Madureira terá espaço para 800 pessoas (Foto: Igreja Cristã Contemporânea/divulgação)Catedral em Madureira terá espaço para 800 pessoas (Foto: Igreja Cristã Contemporânea/divulgação)


Fonte:  G1 e O Globo



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