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domingo, 6 de setembro de 2015

Mães defendem direito de escolha dos filhos e combatem preconceito

“Eu sou quem eu quero ser”. Essa é a abordagem defendida pelo movimento Mães Pela Igualdade, grupo formado por mães de homossexuais que atuam no combate à homofobia. A fundadora do movimento é a pernambucana Leonora Pereira, que idealizou o projeto após seu filho – José Ricardo, de 24 anos – ser assassinado em 2010. O caso teve um desfecho em julho deste ano, com a primeira condenação no país por crime de homofobia. Agora, o Piauí também possui um núcleo do movimento sob coordenação da professora universitária aposentada Lurdinha Nunes, que explica que o grupo luta pelos direitos de seus filhos terem a sua livre orientação sexual vivenciada respeitada.


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“As pessoas exigem sempre uma cobrança de querer justificar tudo como se fosse um mal-entendido, mas nesse caso isso não existe. Aqui é um bem entendido mesmo. É a coragem de dizer ‘eu sou quem eu quero ser’”, disse. No Brasil, existem dois grupos: Mães Pela Igualdade, presente em todo país e o Mães Pela Diversidade, presente no eixo Rio de Janeiro e São Paulo, mas com o mesmo propósito de lutar pelos direitos de seus filhos e fazer com que a sociedade entenda que eles representam uma família. “As pessoas não observam, ignoram a população LGBT e não conseguem imaginá-los com uma vida própria, como alguém produtivo na sua essência e não por sua sexualidade”, disse.

O grupo defende um olhar de família que apoia e respeita seus filhos. As lutas possuem várias frentes que variam desde a produção de materiais didáticos como livros e cartilhas para distribuir nas comunidades e promovem a orientação para as pessoas; assim como o debate político realizando discussões com grupos para que possam respeitar os direitos do público de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros; articulação política, já que os movimentos que têm os mesmos princípios se unem para articular com senadores e deputados federais a criação de leis que trabalhem pelas causas do público e também um trabalho de apoio às mães “Nós temos uma sociedade que foi orientada para entender a heteronormatividade, quer dizer, só é normal aquilo que é o homem e a mulher, então o que tem que ser defendido é que existem diversas formas de ser e de amor e isso tem que ser respeitado”, acrescentou. Ela completou afirmando que o primeiro contato com as mães é para escutar como foi a descoberta da orientação sexual dos seus filhos que pode acontecer de diversas formas.

Apoio da família reflete na sociedade
O coordenador do Centro de Referência LGBT do Piauí e presidente do Conselho LGBT de Teresina, Vitor Kozlowski, afirmou que é de suma importância a participação de um movimento em que mães de homossexuais se unem para lutar pelos direitos dos seus filhos e de todo público.


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“A possibilidade de ter mães que se organizam para defender os direitos de seus filhos é imensamente importante, pois um dos espaços em que há grande discriminação da população LGBT é justamente dentro de casa e quando existe esse diálogo e a defesa dessas pessoas no seio familiar é realmente algo que pode contribuir diretamente no enfrentamento à discriminação da sociedade em geral”, destacou.

Ele acrescentou que o impacto para crianças, adolescentes e jovens homossexuais que têm o apoio e respeito dos pais dentro de casa desde cedo é fundamental na luta pelo respeito e livre orientação sexual de casa. Isso porque reflete diretamente na construção de uma sociedade mais tolerante e menos preconceituosa.

“Esse impacto é imenso. Se partirmos do princípio de que as denúncias de violação de direitos registradas no Disque 100 e outros dados de violência contra o LGBT apontam que a maior parte dos discriminados são jovens, a recepção e o entendimento da sexualidade de cada membro da família resultaria para um reflexo positivo na luta contra o preconceito”, considerou.
Vitor Kozlowski ressalta que o Mães Pela Igualdade é bastante valioso para o movimento e luta LGBT, pois soma com os ideais por entenderem as suas necessidades e conhecerem sua realidade.

Respeito pela identidade
A doutora em Educação Lurdinha Nunes também é uma forte militante dos Direitos Humanos e isso lhe fez entender que o mais importante é o respeito pela identidade da pessoa. Isso a ajudou no momento em que sua filha contou, aos 13 anos de idade, que gostava de outra menina.

“Eu tenho um histórico de defesa dos direitos humanos e nessa trajetória eu sou parceira do movimento LGBT há 14 anos, então eu passei a conviver com aquela realidade. Quando minha filha me contou, eu entendi que Deus me preparou para aquele momento que ela me disse qual a sua orientação sexual”, revelou.

Ela acrescentou que já esperava por esse momento e, a partir de então, passou a estudar ainda mais sobre a causa. Ela se preparou para as palestras para ter um entendimento maior social e político e começou a realizar o trabalho de conscientização pelo respeito da orientação sexual da sua filha dentro de casa com familiares e amigos. Foi quando começou a se infiltrar ainda mais em questões sobre a temática.

Números de denúncias contra público LGBT assustam
A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República realizou um levantamento a partir de denúncias feitas por telefone e registrou 3.084 denúncias de 9.982 violações relacionadas à população LGBT, envolvendo 4.851 vítimas e 4.784 suspeitos. Os números confirmam uma outra análise que revela uma média de 3,23 violações sofridas por cada uma das vítimas.

O cenário se torna ainda mais preocupante se levarmos em consideração os dados relacionados à violência em geral e violência particular. Muitas vezes, ocorre a naturalização da violência como único tratamento possível ou a autoculpabilização. Essa estatística está relacionada às violações analisadas pelo levantamento e não corresponde à totalidade das violências ocorridas cotidianamente contra LGBTs, que segundo especialistas e estudiosos são muito mais numerosas do que aquelas que chegam ao conhecimento do poder público.

Os números apontam para um grave e assustador quadro de violências homofóbicas no país já que reportaram 27,34 violações de direitos humanos de caráter homofóbico por dia. A cada dia, 13,29 pessoas são vítimas de violência homofóbica reportada no Brasil. O estudo foi realizado no ano de 2012.

“Orientação sexual é só uma parte da pessoa, não é o todo”, defende mãe

Leonora Pereira ressalta que ainda existe um debate muito forte de que “agora, todos têm que ser homossexuais” e exemplifica que uma pessoa que é a favor da causa indígena não precisa ser índio ou até mesmo se é contra o racismo não vai se tornar negro. Para ela, falta sensibilidade nas pessoas.



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“A sensibilidade parte do respeito à dignidade da pessoa. O respeito àquilo que a pessoa é, representa, a sua história, trajetória, a memória de sua família e os sonhos e desejos que aquela pessoa tem. Afinal todo mundo tem o direito de ser feliz e orientação é só uma parte da pessoa, não é o todo”, declarou.

A idealizadora do projeto destacou a importância de eventos como a Parada da Diversidade em Teresina – que reuniu 110 mil pessoas na edição de 2015. Neste ano, o grupo formado por 12 mães participou pela primeira vez do evento e o movimento já tem uma lista com cerca de 20 municípios piauienses para visitar e realizar palestras no intuito de conseguir a inserção de novos apoiadores.
O grupo se reúne a cada 15 dias como família e têm entre seus membros o mesmo sentimento: amor de mãe. Todas se sentem mães de todos, pois sentem e conhecem o sofrimento dos seus filhos em relação ao preconceito que sofrem e por isso criam um sentimento de identidade.



Fonte: Meio norte



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