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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Pelo fim da violência, juiz defende banimento de torcidas organizadas de estádios

À frente do Juizado do Torcedor e dos Grandes Eventos do Tribunal de Justiça do Rio, o juiz Marcello Rubioli garante que não existe uma “solução salvadora” para acabar com as brigas entre torcidas dentro e fora dos estádios. Diante de mais um episódio de violência, que terminou com 118 presos próximo ao Estádio Nílton Santos, o magistrado crê que uma série de ações, que incluem até o banimento das torcidas organizadas, devem ser analisadas pelas autoridades competentes.

— É uma pena que só se preocupem em combater a violência do esporte quando acontece alguma coisa. Muito precisa ser mudado e pensado para que as brigas não continuem. O Estatuto do Torcedor, por exemplo, tem que ser aprimorado: é preciso se analisar inclusive a necessidade de banir as torcidas organizadas dos estádios. Se houver casos de membros envolvidos em confusões, a torcida inteira poderia ser punida tendo que ficar a pelo menos cinco quilômetros dos campos em dia de jogo — explica o juiz.

Rubioli aponta ainda para a necessidade da identificação dos membros desses grupos para que haja um monitoramento de seus itinerários e, no caso de qualquer crime, os integrantes sejam presos. Ele defende também que os ingressos tenham cadeiras numeradas, para haver um controle de quem entra nos estádios.

A mesma opinião tem Marco Aurelio Klein, secretário Nacional para Autoridade Brasilera de Controle de Dopagem, órgão ligado ao Ministério do Esporte:

— Não tem mágica nem canetada que resolva a questão da violência nos estádios. Toda a organização do espetáculo precisa ser revista. O que sabemos é que o caminho da repressão só está errado. O vandalismo gosta da repressão. Quando há uma briga e a polícia chega, vira uma praça de guerra — disse.

Entrevista: juiz Marcello Rubioli:

O que fazer para acabar com a violência no futebol?
Há alguns caminhos, projetos embrionários que precisam sair do papel. A Lei 6615, de 2013, cria o cadastro único das torcidas organizadas, para fazer a identificação e o controle dos membros. Agora é preciso que o Estado determine algum órgão para gerenciar esse trabalho.

Quais são as outras medidas que precisam ser tomadas?
A legislação tem que ser aprimorada, para as penas sejam mais duras. Quando o Estatuto do Torcedor foi criado, foram feitas leis especificas para punir essas brigas em estádio. Mas como são penas de até dois anos de prisão, os crimes acabam sendo considerados de menor potencial ofensivo e, por isso acaba havendo uma transação penal e é dado ao condenado uma pena alternativa, como comparecimento na delegacia no horário do jogo.

O que o senhor acha disso?
Um absurdo. Porque esses crimes não são de menor potencial ofensivo. São pessoas com porrete e soco inglês na mão querendo ferir e matar outras pessoas. E acabam sendo beneficiadas por uma brecha do sistema.

Sobre o controle das torcidas, como fazê-lo?
O caminho é uma curadoria dessas torcidas organizadas. Já há um inquérito civil público em andamento para que as torcidas se regularizem e se identifiquem e sejam monitoradas. É a teoria da aparência: se todos querem participar da empresa, têm que ser reconhecidos como sócios e até sofrer as restrições a que ela for imposta. A identificação é primordial: não tenho como afastar um torcedor do estádio se ele não for identificado.

Mas todos da torcida seriam punidos pelas brigas...
Sim. mas, se de um lado algumas posições têm que ser repensadas, outras precisam ser agravadas em prol da paz coletiva. Não tem jeito.

Fonte: Extra



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