Julho de 2002. Eu tinha 16 anos e ficava com uma menina que ia estrear
na passarela em um evento de moda. Fomos eu e o irmão dela, da mesma
idade que eu. Fomos para prestigiá-la e também porque o agente tinha
visto no irmão um grande potencial para também seguir a carreira de
modelo.
Quando entramos no backstage após o desfile, o agente, homossexual
assumido, cuidava dos trâmites finais de camarim gesticulando, rindo e
balançando as mãos de forma bem estereotipada. Normal né? Mas ao ver
aquela cena, o irmão da menina cerrou dentes e olhos enfurecidos, deu
meia volta e saiu. Transtornado, disse à irmã que nunca iria “entrar num
negócio que só tinha ‘viado'(sic)”. “Pouca vergonha… Eu sou é homem,
porra”. Eu particularmente vi mais do que raiva naquela cena. Mesmo sem
entender, eu vi um pouco de medo. Mas relevei aquilo. Afinal, medo do
que? Logo ele, que xingava, chutava e perseguia um colega de classe
notavelmente afeminado.
Oito anos depois, o vejo de mãos dadas com seu namorado. Não fiquei
surpreso, porque já tinha lido as pesquisas de Harry Adams. Em 1996, ele
e outros pesquisadores da University of Georgia (EUA), realizaram uma
pesquisa com mais de 70 pessoas, que foram divididas em dois grupos:
homofóbicos e não-homofóbicos. Esses grupos foram caracterizados a
partir de entrevistas prévias com os participantes, que depois tinham
que assistir a vídeos eróticos com aparelhos ligados para medir
excitação sexual. Os autores mostraram que a maioria dos homofóbicos,
bem como os não homofóbicos, ficaram excitados com vídeos de cena
heterossexual. Porém, a maior parte dos homofóbicos também ficou
excitada ao ver cenas de conteúdo homossexual, enquanto os não
homofóbicos não apresentaram excitação.
É uma pesquisa antiga, de fato. E ainda há trabalhos indicando isso
desde a década de 80, como o dos norte-americanos Walter Hudson e
Wendell Ricketts. Entretanto, outros estudos desde então tem reforçado
essa ideia de forma cada vez mais consistente. Um artigo mais recente e
de caráter muito mais complexo, envolvendo quase 800 pessoas, foi
conduzido nos Estados Unidos e Alemanha por Netta Weistein e sua equipe.
Os pesquisadores indicaram que 20% das pessoas que se demonstravam
agressivas contra homossexuais apresentavam desejos por pessoas do mesmo
sexo, de acordo com os testes. O trabalho ainda mostra uma correlação
muito forte entre homofobia e um histórico de educação rígida dos pais,
onde os filhos possuem pouca autonomia. Como essas crianças crescem em
um ambiente muito repressor, a não aceitação do próprio desejo passa a
ser transferida para a não aceitação social da homossexualidade.
Essa amostra é um reflexo da nossa sociedade. Há, por exemplo, grupos
extremamente conservadores que são capazes de promover boicote a uma
marca de perfumes, porque essa resolveu colocar casais gays em sua
campanha publicitária. Felizmente, as lutas sociais atreladas a pilhas
de informações históricas e científicas sobre o tema conseguiram, a
muito custo (e até sangue), mostrar para uma parcela enorme da sociedade
que esse padrão homofóbico, antigamente normalizado, é atualmente
inaceitável.
Embora ainda falte muito a ser feito, não tenho dúvidas de que os
homofóbicos de hoje pensarão duas vezes antes de, no futuro, contar aos
netos e bisnetos sobre os impropérios que eles falavam e faziam contra
homossexuais.
Por hugofernandesbio em Ciência e Política
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