Com apenas 11 anos de idade, K. conheceu a intolerância religiosa na
noite de domingo de forma dolorosa. A menina, iniciada no Candomblé há
quatro meses, seguia com parentes e irmãos de santo para um centro
espiritualista na Vila da Penha, quando foi atingida na cabeça por uma
pedra, atirada, segundo testemunhas, por um grupo de evangélicos. Ainda
segundo os relatos, momentos antes, eles xingaram os adeptos da religião
de matriz africana.
“Eles gritaram: ‘Sai Satanás, queima! Vocês vão para o inferno’. Mas nós não demos importância. Logo depois, o pedregulho atingiu minha neta e, enquanto fomos socorrê-la, eles fugiram em um ônibus”, contou a avó da menina, Kathia Coelho Maria Eduardo, de 53 anos, conhecida na religião como Vó Kathi
Segundo seus parentes e filhos de santo, a
religiosa enfartou depois da instalação de um igreja evangélica em
frente ao seu terreiro.
Conhecida como Mãe Dede de Iansã, Mildreles Dias Ferreira teria morrido após seguidores da igreja, terem passado uma madrugada inteira em vigília proferindo ofensas em direção à casa de santo.
“A polícia recebeu queixas contra as manifestações em frente ao terreiro antes da morte dela. Fizeram cerimônias em frente à casa de forma acintosa e, em outros casos, há quem macule terreiros, além de outras práticas sistemáticas”, enumerou Ivanir dos Santos, presidente da comissão.
“Eles gritaram: ‘Sai Satanás, queima! Vocês vão para o inferno’. Mas nós não demos importância. Logo depois, o pedregulho atingiu minha neta e, enquanto fomos socorrê-la, eles fugiram em um ônibus”, contou a avó da menina, Kathia Coelho Maria Eduardo, de 53 anos, conhecida na religião como Vó Kathi
O caso foi registrado ontem na 38ª DP
(Brás de Pina) como lesão corporal e no artigo 20 da lei 7.716
(praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de
religião). A polícia tenta identificar os agressores através de câmeras
dos ônibus da região.
K. chegou a desmaiar e, segundo seus
parentes, teve dificuldade para lembrar de fatos recentes. “Ela está
bem, pois foi socorrida para o hospital e até foi à escola, pois é muito
estudiosa. Mas na hora chegou a perder a memória. Que mundo é esse que
estamos vivendo? Não se respeita nem criança?”, questionou, ainda
indignada, Yara Jambeiro, 49, também integrante do Barracão Inzo Ria
Lembáum e uma das responsáveis pela educação religiosa de K.
O caso ganhou repercussão na Comissão de
Combate à Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro. Ivanir dos Santos,
que preside a comissão, defende a importância da punição aos
responsáveis.
“Não se trata de um fato isolado. É
assustador uma pedrada em uma criança. Vivemos um momento delicado na
questão da intolerância. As investigações precisam chegar aos agressores
para que o exemplo não seja de impunidade e que a liberdade religiosa
seja reafirmada como está na lei”, avaliou.
Responsável por uma rede social com
50 mil adeptos e que defende a cultura afro-brasileira, Marcelo Dias, o
Yangoo, divulgou o caso: “É assombroso”, criticou.
Ialorixá de 90 anos enfartou com ofensas
A denúncia de que uma pedra feriu a menina K., de 11 anos, na noite de
domingo, chegou à Comissão de Combate à Intolerância do Rio em meio a
reunião na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) em protesto
pela morte, no dia 1º , de uma uma ialorixá, de 90 anos de idade, em
Camaçari, na Bahia.
Conhecida como Mãe Dede de Iansã, Mildreles Dias Ferreira teria morrido após seguidores da igreja, terem passado uma madrugada inteira em vigília proferindo ofensas em direção à casa de santo.
“A polícia recebeu queixas contra as manifestações em frente ao terreiro antes da morte dela. Fizeram cerimônias em frente à casa de forma acintosa e, em outros casos, há quem macule terreiros, além de outras práticas sistemáticas”, enumerou Ivanir dos Santos, presidente da comissão.
Antes da agressão, a menina já defendia o direito de usar as cores de sua religião de forma pacífica
Foto: Reprodução
FONTE: O Dia
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