John Shulman, que estudou direito em Harvard, fala sobre o escândalo na Fifa
"Eu estou chocado, você não está?", diz John Shulman ao atender a
reportagem do UOL. Ele tem uma opinião diferente sobre o envolvimento
dos Estados Unidos no escândalo da FIFA. Professor convidado da Fundação
Dom Cabral, especialista em mediação de negociações, cofundador do
Centro para a Negociação e a Justiça dos EUA, e formado em direito pela
Universidade de Harvard, ele acredita que a intervenção "não teve cunho
legal, mas geopolítico".
"Com essa ação, os EUA enviam dois
recados. Para o mundo, o de que o nosso sistema legal pode te pegar se
você estiver fazendo algo errado. Internamente, mostramos que tomamos a
iniciativa de resolver a corrupção dos outros", diz o professor.
E John entende tanto de geopolítica quanto de futebol. Seu currículo de
mediador inclui diversos trabalhos ao redor do mundo, incluindo no
Oriente Médio, na Índia e em Ruanda. Sobre o "soccer", uma curiosidade: o
hoje professor já jogou profissionalmente na Índia, onde, segundo ele,
foi o primeiro jogador ocidental por aquelas bandas.
"Os Estados
Unidos nunca deram a menor bola para o futebol. De repente, pela
primeira vez na história, o The New York Times vem com a primeira página
inteira falando do assunto. Aí eu me pergunto: por quê?", questiona
John. Para o professor, há vários pontos obscuros no envolvimento
americano. "A logística de uma operação internacional deste porte
simplesmente não vale a pena. Até porque não há um número de vítimas nos
EUA que justifiquem tamanha mobilização", argumenta ele. "Há empresas
nos EUA muito mais corruptas do que a FIFA, pode ter certeza", crava o
especialista.
"Para mim, trata-se claramente do seguinte: são
os EUA mobilizando seu aparato legal interno em prol de questões
geopolíticas. No caso, para colocar pressão na Rússia (sede da Copa de
2018), com quem o país tem tido problemas recentemente, e no Qatar (sede
da Copa de 2022), onde também existem questões geopolíticas".
John cita ainda a chance para os EUA desestruturarem uma organização
que, corrupta ou não, tem tentáculos de poder que fogem ao seu alcance.
"A ONU está presente em vários países, mas os EUA têm poder sobre ela.
Isso não acontece com a FIFA, o que causa uma ruptura da hegemonia
americana."
Quer dizer, se você está feliz que alguém finalmente
tomou a iniciativa de enquadrar a FIFA, comemore com moderação. "É
claro que a FIFA é corrupta. Todo mundo sabe disso. Mas os EUA não estão
fazendo isso pelo bem do futebol", completa John.
Fonte: Uol
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