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sábado, 25 de outubro de 2014

Sem vencedor, debate da Globo foi considerado melhor e com mais densidade política


Dilma e Aécio discutiram mensalão, crise na Petrobras, falta de água em São Paulo e inflação durante encontro que pode decidir eleição

O último debate do segundo turno da eleição presidencial deste ano foi uma síntese dos temas e do clima tenso que marcaram a campanha. Realizado pela TV Globo em seus estúdios no Rio de Janeiro, o encontro final entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), porém, teve menos marquetagem eleitoral e mais densidade política do que os três embates anteriores desta fase decisiva. 

Não faltaram os temas explorados à exaustão durante os últimos dias, como o combate à inflação, a crise na Petrobras e a comparação entre as gestões tucanas e petistas. O fato novo ficou por conta do formato do debate, determinante para que os candidatos fossem confrontados com pontos de vista que realmente fazem diferença na vida dos brasileiros, e não apenas no jogo eleitoral. Um questionamento sobre corrupção, por exemplo, saído da boca de uma eleitora, deixou Dilma Rousseff mais desconcertada do que de costume. De seu lado, Aécio também aparentou dificuldades em responder diretamente aos eleitores. Se não conseguiram demonstrar desenvoltura no trato direto com o eleitor, os dois também entenderam que, frente a frente com eles, não poderia seguir a cartilha dos marqueteiros. 

Conforme as regras, um grupo de eleitores indecisos, selecionados pelo instituto de pesquisas Ibope, fez perguntas diretas a Dilma e a Aécio em dois blocos. Houve também confronto direto entre os candidatos. Baixarias, ataques ao caráter e acusações pessoais ficaram fora do debate da TV Globo. A despeito da boa conduta dos candidatos, não faltou temperatura ao confronto. Nos momentos mais agudos desse enfrentamento final, Dilma e Aécio discutiram a crise ética e moral na Petrobras, a falta de água no Estado de São Paulo e o escândalo do mensalão. O debate começou às 22h08 com audiência acima de 31 pontos, muito alta para o horário. Leia a seguir o relato dos principais momentos: 

PLATEIA - A claque de Aécio no estúdio tinha artistas, políticos e ex-esportistas, como o ex-jogador de futebol Ronaldo, um dos mais assediados com pedidos de fotos e de autógrafos. Do lado petista, os lugares foram quase todos ocupados por estrelas do partido e ministros do governo federal, entre eles, Aloizio Mercadante (Casa Civil). Celso Kamura, cabeleireiro da presidente era um dos convidados de honra. Os dois debatedores foram saudados com aplausos quando adentraram o estúdio poucos minutos antes das 22h. 

O marqueteiro de Dilma, João Santana, figura-chave desta eleição, permaneceu ao lado da candidata até os últimos instantes antes do início do debate. Aécio preferiu ficar sozinho, concentrado. O mediador do debate, o jornalista William Bonner, perguntou a Dilma se a poltrona destinada a ela estava confortável. "Mais ou menos", respondeu a presidente. 

PRIMEIRO BLOCO - Os candidatos perguntaram diretamente um ao outro. Logo de início, Aécio aproveitou suas falas para acusar Dilma de fazer uma campanha de baixo nível contra ele e questioná-la sobre o escândalo da Petrobras: "Essa campanha vai passar para a história como a mais sórdida já vista. Uma revista denuncia hoje que a senhora tinha conhecimento sobre a corrupção na Petrobras. É a oportunidade de a senhora responder à população". "Essa revista faz calúnia e difamação, e você endossa com a sua pergunta. Eu mostro a minha inteira indignação. Tenta dar um golpe eleitoral, e não é a primeira vez que isso acontece. O povo não é bobo. O povo sabe que está sendo manipulado, pois não há nenhuma prova. Eu acionarei a Justiça e tenho certeza que o povo brasileiro vai mostrar a sua indignação no domingo", respondeu a presidente. Conforme a revista Veja, o doleiro Alberto Yousseff, preso em Curitiba (PR), afirmou à Justiça que Dilma e Lula tinham conhecimento do esquema de corrupção. 

A troca de acusações em relação ao nível das campanhas prosseguiu. "Hoje (24), no comitê do seu partido, foram encontrados boletins apócrifos sobre a minha pessoa. A senhora acredita que esta seja a melhor forma de fazer campanha?", questionou Aécio. Dilma respondeu acusando duas publicações: "Eu fico muito estarrecida com o senhor porque na minha vida política e pública jamais persegui jornalista e reprimi a imprensa. Tenho respeito, pois vivi os tempos escuros deste país. O senhor cita duas revistas (Isto É e Veja) que sabemos para quem fazem campanha". 

O tema baixaria eleitoral deu lugar a infraestrutura e economia, com maior destaque para o controle da inflação. "A senhora disse nos últimos debates que a inflação está sob controle. Eu não acredito nisso, candidata. Eu lhe dou mais uma oportunidade. O que seu governo, se eleito, fará para controlar a inflação?", questionou Aécio. Dilma respondeu atacando o PSDB. "Nos últimos dez anos mantivemos a inflação dentro do limite da meta. Quem não mantinha era o governo FHC. Em 2001, ela já estava em 7,7%. Vocês aumentaram imposto e deixaram uma dívida pública muito maior do que receberam", disse ela. Em sua tréplica, o candidato tucano citou o Plano Real, lançado pelo governo Itamar Franco que tinha Fernando Henrique Cardoso como ministro da Fazenda. "A senhora quer dizer, então, que o PT controlou a inflação? E não o Plano Real? A história não se reescreve, presidente", afirmou Aécio. 

SEGUNDO BLOCO - Reservado às perguntas dos eleitores indecisos, ele também teve clima quente quando o assunto foi corrupção. Após os dois candidatos terem respondido sobre habitação e educação, com Dilma propagandeando o programa Minha Casa, Minha Vida e Aécio prometendo creches abertas até as 20h, um dos indecisos levantou o tema do combate à corrupção. "Você expressa o sentimento de milhões de brasileiros que aguentam os casos de corrupção. Eu vejo a candidata Dilma apresentar um conjunto de propostas, que já estavam em tramitação no Congresso, e não foram aprovados até agora. Existe uma medida que está acima de todas as outras para acabar com a corrupção do governo: vamos tirar o PT do governo", respondeu Aécio ao formulador da questão. A presidente, visivelmente nervosa, disse: "Veja você que quem fala é o representante de um partido que tinha uma prática de engavetar investigações. Isso levou o Brasil a sempre ter um conjunto de investigações que nunca ninguém viu. Todos soltos. Eu tenho um orgulho, nunca compactuei com corrupto e corrupção". 

TERCEIRO BLOCO - Voltaram os enfrentamentos diretos entre os candidatos, que trouxeram para o centro do debate a grave crise hídrica de São Paulo, Estado governado pelo PSDB desde 1995. "O que o senhor acha da falta de água em São Paulo, foi problema de planejamento?", questionou Dilma. "O governo de São Paulo fez o que estava ao seu alcance, e o povo decidiu nas urnas quem estava com a razão. Infelizmente, não tivemos a parceria da ANA. Por que será que a Agência Nacional de Águas não estava planejando? Na ANA não foram colocadas pessoas por sua qualificação, mas por sua indicação", respondeu Aécio. 

O mensalão, maior escândalo de corrupção da gestão Lula (2003-2010), sumido dos debates anteriores, provocou momento de tensão. "Para a candidata Dilma Rousseff, José Dirceu (ex-ministro da Casa Civil da gestão Lula) foi punido justamente?", questionou Aécio. A presidente preferiu não responder e acusou o PSDB: "Houve o julgamento do Mensalão e é necessário dizer que eles foram condenados e foram para a cadeia. Já o Mensalão do seu partido não foi julgado e estão soltos por aí. Eu posso citar os cinco processos que envolvem líderes do seu partido e que estão todos soltos". O bloco teve ainda discussões a respeito da reforma política, com Aécio defendendo o fim da reeleição, e Dilma, o fim do financiamento das campanhas por empresas privadas. 

QUARTO BLOCO - Os eleitores indecisos voltaram a questionar os candidatos. Um dos temas foi a segurança pública. "Essa foi a maior preocupação no nosso programa de governo. Anunciei uma política de fronteiras, ao contrário do que hoje acontece com as nossas fronteiras, que não são guardadas. Teremos uma política diferente com os países que produzem drogas. Nós temos também que fazer uma profunda reforma no nosso Código Penal para que não haja o sentimento de impunidade e insegurança que acontece hoje. O governo federal é o que mais arrecada, porém gasta 13% do que se gasta com segurança pública no Brasil. Seremos mais solidários com esse gasto", afirmou Aécio. "O Brasil hoje tem o grande desafio, que é o combate à violência e às drogas. Conseguimos apreender 640 toneladas de drogas, além de armas, pessoas e veículos. É fundamental que haja uma maior participação da União. Fazemos hoje uma coisa chamada garantia da lei e da ordem", disse Dilma. 

Em suas considerações finais, Dilma e Aécio fizeram um último apelo aos eleitores que domingo decidirão o futuro do país. "O Brasil que quer crescer, melhorar, e faz isso com muita autoestima. É o Brasil da educação e da cultura. Da inovação e da ciência. Eu deixo aqui minha palavra. Nós que lutamos tanto para melhorar de vida, não vamos permitir que nada nem ninguém tire de você o que você conquistou. Não vamos permitir que isso volte atrás. Vamos garantir que haverá um futuro nosso, um futuro de esperança e de unidade", afirmou Dilma. "Estou extremamente honrado em andar pelo país e ver surgir uma confiança novalto com a mesma força que meu avô nos conduziu à democracia", afirmou Aécio.a. Acompanhando meu avô Tancredo há 30 anos, tive essa oportunidade de andar pelo país. Se eu merecer o seu voto, eu subirei a rampa do Palácio do Planalto.


Fonte: JL/Globo



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