Carlos Minc diz que o TJ do Estado do Rio de Janeiro revogou a lei em outubro de 2012.
A derrubada da Lei Estadual 3.406/2000, que define penalidades a estabelecimentos que discriminem pessoas por causa da orientação sexual, pode estar relacionada ao aumento da violência sofrida por lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e transgêneros.
O tema foi discutido em audiência pública na última quinta-feira (20),
promovida pela Comissão de Combate às Discriminações e aos Preconceitos
de Raça, Cor, Etnia, Religião e Procedência Nacional da Assembleia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
De acordo com o presidente da comissão, deputado Carlos Minc, o Tribunal
de Justiça do Estado do Rio de Janeiro revogou a lei em outubro de 2012
por vício de iniciativa, depois de ela “funcionar muito bem” por 12
anos.
“A lei [definia] discriminação [e estabelecia] que agentes públicos que
se omitissem [sobre o assunto] seriam punidos. Houve recurso por vício
de iniciativa, porque deputado não pode legislar sobre funcionário
público. O Tribunal de Justiça acatou a representação, mas não anulou só
o artigo que falava de funcionário público. Aproveitaram um pouco de
desinformação, e também conservadorismo da nossa Justiça, e passaram o
cerol [mistura de cola com vidro moído que é aplicado em linhas de
papagaios ou pipas] em toda a lei”.
O superintendente de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos da
Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Claudio
Nascimento, que também coordena o Programa Rio sem Homofobia, lembra que
no ano passado houve 20 casos de assassinatos de pessoas vítimas de
preconceito sexual no estado, e neste ano já houve sete.
“Temos uma situação concreta de discriminação e preconceito. Tem um
sistema ideológico muito estruturado que vem conseguindo gerar esses
níveis de violência. Estamos disputando esse debate na sociedade, mas a
gente sabe que com o aumento do fundamentalismo religioso e político, o
conservadorismo da sociedade, a ideia de limpeza moral, tudo isso
contribui [para a violência homofóbica]”.
O presidente do Grupo Arco-Íris, que organiza a Parada Gay do Rio de
Janeiro, Júlio Moreira, lembra que a luta contra a homofobia também foi
derrotada no Congresso Nacional. “Estamos num cenário político muito
delicado, pela experiência que nós tivemos com o PLC 122 [Projeto de Lei
da Câmara que criminaliza a homofobia], projeto que recebeu tantas
emendas [que], no final, não passou. Então a gente precisa refletir
sobre o que a gente quer. A gente precisa mostrar que a gente tem
força”.
Para o estilista Carlos Tufvesson, responsável pela Coordenadoria
Especial de Diversidade Sexual da prefeitura, as casas legislativas têm
sido omissas com relação à homofobia e outras intolerâncias. “Nós nunca
matamos tanto negros, homossexuais, mulheres, nunca tivemos tantos
crimes de intolerância religiosa. Estamos nos tornando um país
intolerante. O dado de aumento de 47% dos crimes de ódio foi publicado
em junho e desde então nenhuma política pública foi adotada. A gente
está vivendo um verdadeiro holocausto de cidadania no nosso país. Tudo
que a gente constituiu e lutou está sendo destruído”.
O vereador de Niterói Leonardo Jordano disse que não é possível dizer
que a ausência de lei específica cause diretamente o aumento da
violência homofóbica, mas há uma relação de causa e efeito entre os dois
tópicos. “O descumprimento de leis é feito seletivamente, há diversas
leis sendo descumpridas e só a [que ataca problemas ligados ao
movimento] LGBT foi revogada. O movimento LBGT está sob ataque, a lei
estava pacífica, consolidada.
Tivemos conquistas importantes nas décadas de 1990 e de 2000, mas agora a
gente vive um momento em que se busca andar para trás, os caras estão
indo para a agressão. As denúncias são desmoralizadas, o debate é
desqualificado, para manter no gueto a comunidade LGBT. É uma população
que não pode amar em público e os outros vêm falar que [uma lei] seria
criação de privilégios”.
De acordo com Minc, um novo projeto de lei com o mesmo teor da Lei 3.406
foi apresentado pelo governador Sérgio Cabral, porém, a discussão está
parada na Alerj. O deputado diz que o projeto já recebeu mais de cem
emendas de pessoas contrárias à causa LGBT.
Agência Brasil
Postar um comentário