Caminhões, supermercados e lojas foram saqueados.
O comando de greve dos policias militares de Pernambuco anunciou na noite desta quinta-feira que a greve da categoria acabou e que os soldados aquartelados voltarão às ruas. Enquanto o anúncio do fim do movimento era feito, no local onde os grevistas estão concentrados, em frente à sede do governo estadual, em Recife, o ministro da Justiça dava entrevista coletiva na Secretaria estadual de Planejamento e Gestão. Nessa entrevista, Cardozo classificou de “terrorismo” o que estava acontecendo em Pernambuco e afirmou que interesses de uma corporação não poderiam se sobrepor às necessidades da população. Ele disse ainda que o governo federal colocaria em ação em Pernambuco todas as forças necessárias para garantir a segurança.
Pela manhã, a greve foi considerada ilegal pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), que determinou o retono às atividades. De acordo com a assessoria do TJPE, caso os policiais militares continuassem com a paralisação, a associação seria multada em R$ 100 mil por dia. A atitude foi tomada ainda na noite de quarta-feira pelo desembargador e presidente do TJPE, Frederico Neves, que determinou retorno imediato da categoria ao trabalho. A primeira ação da Ciosac foi conter os saques realizados em Abreu e Lima.
Mais cedo, o clima de medo permanecia no estado. Houve reforço de quarenta homens da Força Nacional, que se uniram a soldados do Exército para reforçar a segurança em Pernambuco em função da greve da Polícia Militar. Parte do comércio de municípios da Região Metropolitana de Recife fechou em função da onda de saques que se estendeu por toda a manhã. Foram registradas invasões a lojas de Abreu e Lima, Camaragibe, Paulista e Joboatão do Guararapes.
A prefeitura de Abreu e Lima decretou ponto facultativo e as aulas nas redes pública e privada foram suspensas. Ontem, caminhões, lojas e supermercados foram saqueados no município. Pelo menos 48 pessoas foram presas. Apenas hospitais e maternidades funcionam. Desde ontem, quando começou a paralisação da PM, foram registrados 11 homicídios.
Na cidade de Paulista, um grupo vestido com camisas da torcida organizada do Sport tentou arrombar um carro-forte. Os seguranças particulares reagiram atirando, mas ninguém ficou ferido. Policiais da Companhia Independente de Operações de Sobrevivência em Área da Caatinga (Ciosac) prenderam quatro pessoas.
No
Centro de Recife, as poucas lojas abriram. Já nos bairros da Zona
Oeste, o comércio decidiu fechar as portas. O sistema de transportes
também está comprometido. Poucos ônibus circulavam pelas ruas de Recife e
cidades vizinhas e o metro apresentou funcionamento irregular.
- Se acontecer algum tumulto, fechamos a loja - disse um comerciante.
Hoje
também ocorreram saques em Recife, dessa vez a supermercados, no bairro
de Caetés 3, onde mulheres e crianças roubaram mercadorias. Na BR-101,
populares fecharam uma via de acesso queimando pneus, em frente a um
prédio da Justiça Federal. A Polícia Rodoviária Federal dispersou os
manifestantes, e a Justiça Federal encerrou o expediente temendo pela
segurança dos seus funcionários.
No bairro Casa Forte, também na
capital, uma joalheria dentro de um supermercado foi invadida por dois
motoqueiros mascarados que chegaram armados. A dupla roubou relógios e
jóias. Duas funcionárias passaram mal e foram medicadas com calmantes.
Os donos da loja informaram que só voltam a abrir as portas depois do
fim da greve.
O secretário da Casa Civil, Luciano Vasquez, chegou a
dizer que não haveria diálogo com a categoria enquanto PMs não
cumprirem a decisão judicial. Ele aconselhou os militares concentrados
em frente ao Palácio das Princesas a deixarem o local, porque não seriam
recebidos.
Novos reforços estão sendo esperados à tarde, quando
também chegam a Recife os ministros da Justiça e Defesa Social. Em nota,
o governo do estado criticou a deflagração do movimento: “Enquanto
quatro secretários estavam sentados à mesa de negociação com
representantes da categoria, a greve foi decretada antes mesmo da
conclusão da reunião”.
Tensão nas ruas enfraquece manifestação
Um
prostesto de familias do Loteamento São Francisco, em Camaragibe, que
tiveram imóveis desapropriados por causa de obras do sistema de
mobilidade para a Copa na Região Metropolitana de Recife nesta tarde
reuniu apenas cerca de 50 pessoas. A expectativa dos organizadores era a
de atrair, pelo menos, mil manifestantes. As famílias reclamam que
foram despejadas, mas não receberam até hoje as quantias previstas pela
desapropriação. O protesto acontece ao lado do Terminal Integrado de
Camaragibe, distante um quilômetro da Arena Pernambuco. Também
participam da manifestação integrantes de movimentos sociais e grupos de
sem-teto.
Eduardo Campos pediu bom senso
O
ex-governador e candidato a presidente pelo PSB, Eduardo Campos,
divulgou nesta tarde nota sobre a greve da Polícia Militar e a
insegurança que tomou conta do estado. Segundo Campos, “o povo de
Pernambuco sabe dos esforços que realizamos para garantir a melhoria da
Segurança Pública no nosso estado” e que “a hora agora é de bom senso”.
“Tenho
mantido contato permanente com o governador João Lyra e acompanho o
desenrolar das negociações. A hora agora é de bom senso, de lutarmos
juntos por melhores salários, sem contudo deixar a sociedade
pernambucana no medo e na insegurança. A melhor solução virá do diálogo e
do respeito às leis. É o que todos queremos”, diz Campos na nota. O
ex-governador acrescentou que o programa “Pacto pela Vida conseguiu
reduzir os índices de violência por sete anos consecutivos”.
“Isso
só foi possível graças a uma forte presença social do Estado em
localidades de alto índice de violência, mas também com grandes
investimentos na nossa polícia, tanto em equipamentos quanto nos homens e
mulheres que compõem a corporação. Investimos em capacitação, nomeamos
cerca de 9 mil concursados e implementamos um processo de recuperação da
remuneração - acordo que está em vigor, que vem sendo cumprido à risca e
que prevê um reajuste de 14,55% já no mês de junho próximo.”
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